Para reflexão geral!!!
Três professoras, de escolas diferentes, me contaram casos parecidos de agressão sofrida por colegas. Em duas dessas escolas, da rede particular, alunos do Ensino Fundamental I (de 1ª a 4ª série) agrediram fisicamente suas professoras em diferentes situações. No terceiro caso, um aluno de Ensino Fundamental II (de 5ª a 8ª séries) é que foi o agressor, numa escola pública municipal.
No primeiro caso, a professora interagia com os alunos durante o recreio, quando um aluno foi chamado à atenção por comportar-se de maneira indevida, já que estava agredindo seu colega. O menino, de nove anos de idade, voltou-se para a professora e, “ferozmente”, a agrediu com tapas, socos e pontapés.
O segundo caso ocorreu dentro da sala de aula. No momento em que a professora distribuía material pedagógico para um trabalho manual de seus alunos, um aluno de sete anos que não gostou da cor de um dos materiais que recebeu, levantou-se, jogou o material na professora e partiu para tapas e socos, e ainda deu-lhe uma mordida no braço, dessas de arrancar sangue e deixar marca.
O terceiro caso ocorreu durante uma aula em que um aluno, após ter sido insistentemente admoestado a parar de conversar enquanto a professora explicava a matéria, foi encaminhado para fora da sala de aulas, para “conversar” com a coordenação pedagógica. O aluno, de 13 anos se levantou de sua carteira e se dirigiu para a porta, para sair da sala, quando chegava perto da porta, virou-se e deu uma rasteira na professora que caiu no chão e fraturou uma costela.
Esses três casos chamam a atenção para um problema social com que os educadores têm tido que lidar cada vez mais freqüentemente, mas para o que não estão preparados.
Parece óbvio que qualquer atitude que culmine numa ação de agressão física deva ser punida[1] e que a solução do problema seja partilhada com a família do aluno. Na vida em sociedade não se pode admitir qualquer atitude de violência como mediadora de relações entre as pessoas e é papel preponderante da família responsabilizar-se pelo processo de socialização inicial das novas gerações e da escola iniciar os educandos na vida social.
O que resultou nos três casos acima, entretanto, foram atitudes pouco educativas, seja por parte da escola, seja por parte da família do estudante agressor.
Nos casos ocorridos em escolas privadas, o que sobressaiu não foi uma postura educadora, preocupada com a formação dos cidadãos que, futuramente, interagirão no mundo do trabalho com seus pares na solução de problemas e conflitos. Pessoas que certamente discutirão em ocasiões de desacordo de caráter público ou privado; que brigarão com irmãos, primos ou amigos durante brincadeiras. Discutirão quando estiverem numa fila que for furada por alguém, debaterão a vitória ou a derrota do time de futebol, serão xingados no trânsito... Enfim, meninos e meninas que têm o direito de aprender a se portar dignamente diante dos percalços da vida, bem como das dissensões que se apresentam à história cotidiana de cada pessoa.
Com o foco voltado para outros tipos de relação com seus clientes, nos dois casos ocorridos em escola privada, prevaleceu o amansamento das professoras e a contemporização para com o educando: nem os educadores aproveitaram a oportunidade de educar, nem o educando gozou o direito de ser educado. Pior ainda, as relações dos estudantes com a instituição escolar, nestes casos, ficaram gravadas pela desatenção para com a autoridade que educadores e familiares deveriam exercer relativamente ao mau comportamento dos educandos.
O aluno de sete anos, que agredira a professora na sala de aula tomou uma bronca da coordenação pedagógica e tudo ficou por isso mesmo. Dias depois, o menino já se metia em brigas e agressões a colegas de escola.
O de nove anos, que agrediu a professora durante o recreio foi tratado como o primeiro. Os professores do menino até que esboçaram uma reação, mas foram calados pela inabilidade da coordenação pedagógica que, por não fazer a mínima idéia de como proceder nesses casos, acabou usando de argumentos cheios de palavras bonitas e autoritárias, que para além de criticarem a incapacidade da professora, por ter apanhado, sequer aventaram a possibilidade de chamar a família para uma conversa direta a respeito da questão que envolvera o tal aluno. O discurso da coordenação pedagógica: “afinal de contas, é a escola que tem que dar conta do que acontece dentro da escola”.
Aqui cabe um comentário importante. É claro que a escola tem que dar conta do que acontece dentro da escola. Entretanto uma criança é um ser em desenvolvimento. O recinto familiar e o escolar mesclam-se na constituição de sua capacidade de percepção do que seja um e outro meios educativos. A educação não se dá neste-ou-naquele lugar, mas é, sim, um processo que ocorre no estudante que, ainda imaturo, necessita de aportes de uma família e uma escola que falem uma linguagem, no mínimo, parecida no que tange aos valores sociais que procuram ensinar às novas gerações. Quando família e escola não discutem para afinar o discurso acerca de valores como violência, respeito, comportamento social esperado, se transforma o mundo uno da criança em dois mundos — o da família e o da escola —; além disso cria-se uma cisão no processo educacional e, o que poderia servir como situação educadora (a partir de uma agressão o agressor enfrenta conseqüências que lhe faz repensar sua postura para as próximas situações semelhantes que a vida vier a providenciar), acaba se tornando numa ocasião de deseducação.
O aluno de treze anos que deu uma rasteira na professora foi tratado de maneira diferente, na escola pública, mas não menos pior. A direção chamou o menino, deu-lhe “um pito” e mandou chamar os pais para uma conversa. No dia seguinte, a mãe apareceu na escola e foi recebida pela coordenadora pedagógica juntamente com dois professores do menino. A professora agredida não compareceu por estar de licença, com a costela quebrada. Mediante a explicação do que ocorrera, a mãe tomou, de cara, a defesa do menino, dizendo que a professora “era muito ruim e não sabia colocar ordem na classe”, que seu filho “é um menino muito educado e que jamais faria uma coisa daquelas”. Ameaçou mover um processo contra a escola junto ao Conselho Tutelar e disse que faria uma queixa na Diretoria de Ensino. Afirmou que não tiraria o filho da escola, ameaçando o grupo de professores que lhe estava atendendo, dizendo que, se o filho “fosse perseguido”, iria na delegacia dar queixa. Tudo na frente da criança, que estava presente na reunião.
O aluno passou a destacar-se entre seus colegas como um “figurão”. A professora, traumatizada, pediu afastamento e não quer mais saber de salas de aula. A supervisora responsável pela escola disse que se a professora não abrisse “um processo contra o menor”, não se poderia fazer nada.
Para quem gosta de educação, esses três casos passam uma sensação de angústia e de fracasso. Mas este artigo não tem por finalidade deixar ninguém com a sensação de inutilidade ou incompetência. O nosso objetivo é refletir acerca destes casos, visando a uma maneira mais racional de se lidar com esses tipos de acontecimento que estão começando a se repetir em diferentes escolas e com diferentes educadores.
Não podemos relegar aos nossos colegas a sofrida tarefa de descobrirem como agir, já que nem sequer nós outros o sabemos!
Vamos trocar idéias?
0 comentários:
Postar um comentário