quinta-feira, janeiro 20, 2011

Quando a professora apanha do aluno...


Para reflexão geral!!!


Três professoras, de escolas diferentes, me contaram casos parecidos de agressão sofrida por colegas. Em duas dessas escolas, da rede particular, alunos do Ensino Fundamental I (de 1ª a 4ª série) agrediram fisicamente suas professoras em diferentes situações. No terceiro caso, um aluno de Ensino Fundamental II (de 5ª a 8ª séries) é que foi o agressor, numa escola pública municipal.
No primeiro caso, a professora interagia com os alunos durante o recreio, quando um aluno foi chamado à atenção por comportar-se de maneira indevida, já que estava agredindo seu colega. O menino, de nove anos de idade, voltou-se para a professora e, “ferozmente”, a agrediu com tapas, socos e pontapés.
O segundo caso ocorreu dentro da sala de aula. No momento em que a professora distribuía material pedagógico para um trabalho manual de seus alunos, um aluno de sete anos que não gostou da cor de um dos materiais que recebeu, levantou-se, jogou o material na professora e partiu para tapas e socos, e ainda deu-lhe uma mordida no braço, dessas de arrancar sangue e deixar marca.
O terceiro caso ocorreu durante uma aula em que um aluno, após ter sido insistentemente admoestado a parar de conversar enquanto a professora explicava a matéria, foi encaminhado para fora da sala de aulas, para “conversar” com a coordenação pedagógica. O aluno, de 13 anos se levantou de sua carteira e se dirigiu para a porta, para sair da sala, quando chegava perto da porta, virou-se e deu uma rasteira na professora que caiu no chão e fraturou uma costela.
Esses três casos chamam a atenção para um problema social com que os educadores têm tido que lidar cada vez mais freqüentemente, mas para o que não estão preparados.
Parece óbvio que qualquer atitude que culmine numa ação de agressão física deva ser punida[1] e que a solução do problema seja partilhada com a família do aluno. Na vida em sociedade não se pode admitir qualquer atitude de violência como mediadora de relações entre as pessoas e é papel preponderante da família responsabilizar-se pelo processo de socialização inicial das novas gerações e da escola iniciar os educandos na vida social.
O que resultou nos três casos acima, entretanto, foram atitudes pouco educativas, seja por parte da escola, seja por parte da família do estudante agressor.
Nos casos ocorridos em escolas privadas, o que sobressaiu não foi uma postura educadora, preocupada com a formação dos cidadãos que, futuramente, interagirão no mundo do trabalho com seus pares na solução de problemas e conflitos. Pessoas que certamente discutirão em ocasiões de desacordo de caráter público ou privado; que brigarão com irmãos, primos ou amigos durante brincadeiras. Discutirão quando estiverem numa fila que for furada por alguém, debaterão a vitória ou a derrota do time de futebol, serão xingados no trânsito... Enfim, meninos e meninas que têm o direito de aprender a se portar dignamente diante dos percalços da vida, bem como das dissensões que se apresentam à história cotidiana de cada pessoa.
Com o foco voltado para outros tipos de relação com seus clientes, nos dois casos ocorridos em escola privada, prevaleceu o amansamento das professoras e a contemporização para com o educando: nem os educadores aproveitaram a oportunidade de educar, nem o educando gozou o direito de ser educado. Pior ainda, as relações dos estudantes com a instituição escolar, nestes casos, ficaram gravadas pela desatenção para com a autoridade que educadores e familiares deveriam exercer relativamente ao mau comportamento dos educandos.
O aluno de sete anos, que agredira a professora na sala de aula tomou uma bronca da coordenação pedagógica e tudo ficou por isso mesmo. Dias depois, o menino já se metia em brigas e agressões a colegas de escola.
O de nove anos, que agrediu a professora durante o recreio foi tratado como o primeiro. Os professores do menino até que esboçaram uma reação, mas foram calados pela inabilidade da coordenação pedagógica que, por não fazer a mínima idéia de como proceder nesses casos, acabou usando de argumentos cheios de palavras bonitas e autoritárias, que para além de criticarem a incapacidade da professora, por ter apanhado, sequer aventaram a possibilidade de chamar a família para uma conversa direta a respeito da questão que envolvera o tal aluno. O discurso da coordenação pedagógica: “afinal de contas, é a escola que tem que dar conta do que acontece dentro da escola”.
Aqui cabe um comentário importante. É claro que a escola tem que dar conta do que acontece dentro da escola. Entretanto uma criança é um ser em desenvolvimento. O recinto familiar e o escolar mesclam-se na constituição de sua capacidade de percepção do que seja um e outro meios educativos. A educação não se dá neste-ou-naquele lugar, mas é, sim, um processo que ocorre no estudante que, ainda imaturo, necessita de aportes de uma família e uma escola que falem uma linguagem, no mínimo, parecida no que tange aos valores sociais que procuram ensinar às novas gerações. Quando família e escola não discutem para afinar o discurso acerca de valores como violência, respeito, comportamento social esperado, se transforma o mundo uno da criança em dois mundos — o da família e o da escola —; além disso cria-se uma cisão no processo educacional e, o que poderia servir como situação educadora (a partir de uma agressão o agressor enfrenta conseqüências que lhe faz repensar sua postura para as próximas situações semelhantes que a vida vier a providenciar), acaba se tornando numa ocasião de deseducação.
O aluno de treze anos que deu uma rasteira na professora foi tratado de maneira diferente, na escola pública, mas não menos pior. A direção chamou o menino, deu-lhe “um pito” e mandou chamar os pais para uma conversa. No dia seguinte, a mãe apareceu na escola e foi recebida pela coordenadora pedagógica juntamente com dois professores do menino. A professora agredida não compareceu por estar de licença, com a costela quebrada. Mediante a explicação do que ocorrera, a mãe tomou, de cara, a defesa do menino, dizendo que a professora “era muito ruim e não sabia colocar ordem na classe”, que seu filho “é um menino muito educado e que jamais faria uma coisa daquelas”. Ameaçou mover um processo contra a escola junto ao Conselho Tutelar e disse que faria uma queixa na Diretoria de Ensino. Afirmou que não tiraria o filho da escola, ameaçando o grupo de professores que lhe estava atendendo, dizendo que, se o filho “fosse perseguido”, iria na delegacia dar queixa. Tudo na frente da criança, que estava presente na reunião.
O aluno passou a destacar-se entre seus colegas como um “figurão”. A professora, traumatizada, pediu afastamento e não quer mais saber de salas de aula. A supervisora responsável pela escola disse que se a professora não abrisse “um processo contra o menor”, não se poderia fazer nada.
Para quem gosta de educação, esses três casos passam uma sensação de angústia e de fracasso. Mas este artigo não tem por finalidade deixar ninguém com a sensação de inutilidade ou incompetência. O nosso objetivo é refletir acerca destes casos, visando a uma maneira mais racional de se lidar com esses tipos de acontecimento que estão começando a se repetir em diferentes escolas e com diferentes educadores.
Não podemos relegar aos nossos colegas a sofrida tarefa de descobrirem como agir, já que nem sequer nós outros o sabemos!
Vamos trocar idéias?

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